Acessibilidade em projetos digitais
Em anos de olimpíadas e das paralimpíadas. Sempre fico impressionado nas paralimpíadas, quando vejo pessoas com algumas limitações fazerem coisas extraordinárias. Como diria a minha avó, é de cair o queixo. Todos nós temos limitações, algumas mais acentuadas do que outras, mas elas estão ali. Às vezes, uns óculos resolvem o problema, em outros casos uma cirurgia, em certas situações uma prótese é a solução, e, infelizmente, pode acontecer de não ter uma solução. Entendo que em todos os casos podemos ajudar e facilitar a vida das pessoas. E é sobre isso que falaremos hoje, sobre melhorar a qualidade de vida através da acessibilidade em projetos digitais.
Em ano de paralimpíadas a discussão é natural, você vai encontrar diversos textos discutindo o tema, e levantando a questão, “Por que tornar os produtos digitais mais acessíveis?”. Talvez o principal ponto seja que somos humanos, temos limitações e devemos ajudar uns aos outros. Tornar qualquer projeto mais acessível, ajudará a todos, alguns mais do que outros, e trará benefícios diretos e indiretos.
Tem também a questão da legislação. De acordo com o artigo 63 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), “É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País…”, entre outras obrigações. Essa lei é de 2015 e se você ainda não leu, sugiro que dê uma olhada. E aí vêm as questões de 1 milhão de dólares?….

Como tornar meu produto mais inclusivo? Como melhorar a acessibilidade em meus projetos?
Não são questões fáceis de responder. Para abordar isso precisamos pensar em nossos cinco sentidos: tato, visão, audição, olfato e paladar. Os três primeiros não podem ser ignorados, seu usuário ou irá tocar, ou irá ver, ou irá ouvir o seu produto. Talvez até fale com o seu sistema. E agora, como começar a desenvolver o app?
Vamos pedir ajuda a uma das gigantes de tecnologia, a Intel, e mostrar alguns cases de startups que tornaram apps mais inclusivos. Em 2013 a Intel fez uma competição chamada Perceptual Challenge Brasil, que foi um concurso que premiou aplicativos com reconhecimento de gestos, voz e realidade aumentada. Nosso país recebeu 103 ideias, 5° lugar no mundo. A lista dos projetos vencedores da competição pode ser encontrada aqui.
Para contextualizar o que ocorreu, na época a Intel desenvolveu uma câmera e um kit de desenvolvimento de software (SDK) que tinham o objetivo de melhorar a experiência do usuário ao interagir com os softwares. Os recursos melhoravam, consideravelmente, a interação através da fala e dos gestos. Mas, para isso entrar no mercado, os desenvolvedores precisavam aprender a usar as ferramentas. Então a Intel inventou essa competição que serviu de estímulo para diversas empresas, na maioria startups, a ingressarem nesse segmento de desenvolvimento de soluções que envolviam o uso de gestos e fala.
Pensando em melhorar a acessibilidade, tecnologias desse tipo abrem infinitas possibilidades. Como exemplo vamos citar a empresa que foi a 3ª colocada nessa competição e desenvolveu um aplicativo chamado THSFlex. Você pode ver o vídeo do protótipo.
O nome da empresa era Top Hint Solutions e a proposta foi a de desenvolver um sistema que media a flexibilidade das pessoas. O nome completo da aplicação é THSFlex – Teste de Flexibilidade Coxo-Femoral. Utilizando gestos, o usuário fazia todas as seleções dos menus e identificava a faixa etária. Então, fazia um teste de flexibilidade seguindo a metodologia Sit and Reach. Nesse teste, o usuário ficava sentado com as pernas esticadas em frente ao computador. Analisando as imagens, o aplicativo media a flexibilidade e indicava o grau de flexibilidade da pessoa seguindo os critérios da metodologia.
A ideia permitia que profissionais da saúde pudessem fazer um diagnóstico das limitações de movimentos de algumas pessoas, em alguns segundos, de forma mais precisa e automatizada. Em 2013 isso só foi possível, pois a Intel disponibilizou o hardware e o software para o desenvolvimento do aplicativo. Mas hoje, em 2021, essas tecnologias já vêm embutidas em seu celular, em sua TV, no seu PC, etc… Ou seja, o desenvolvimento hoje é muito mais fácil. No exemplo citado, a empresa utilizou a linguagem C# dentro do ambiente do Microsoft Visual Studio para desenvolver a solução.
Utilizando a mesma tecnologia, um professor também desenvolveu um projeto chamado “Blink – Gestos controlando equipamentos”, em que cadeirantes poderiam controlar equipamentos através de gestos faciais. Nesse vídeo você pode ver uma criança cadeirante com Mielomelingocele controlando as luzes de uma árvore de Natal [7]. Nesse outro, uma adulta cadeirante controlando as luzes da própria residência. Essencialmente essas duas ideias permitem o acesso através do tratamento de imagens. Como as câmeras atuais já estão disponíveis nos equipamentos, para você começar a desenvolver seus sistemas mais acessíveis, basta ter uma equipe disposta e preparada para isso.
Nos exemplos apresentados, as soluções melhoram a qualidade de vida dos usuários de alguma forma. Mas a abordagem pode ser outra, não precisa ter objetivo final na acessibilidade, pode ser no produto e a acessibilidade ser um diferencial. Vou explicar melhor. Imagine que sua empresa desenvolveu um sistema de controle de estoque. O objetivo final de seu produto é oferecer o melhor controle de estoque possível. E realmente o seu sistema é espetacular, parabéns! No entanto, você projetou o sistema para que um usuário sem limitações fosse utilizado. E de fato, se isso ocorrer, tudo é ótimo. Mas, infelizmente, seu cliente sofreu um acidente, e perdeu o movimento das mãos. E agora? Ele pode utilizar a fala e gestos faciais para utilizar a ferramenta. Imagina que diferencial?
Se você não projetou inicialmente seu sistema para dar esses acessos, realmente o trabalho pode ser muito maior. Mas se desde o início você incluiu como um dos requisitos do seu projeto, pode ser muito mais fácil. Mesmo para pessoas sem nenhuma limitação, imagina oferecer ao cliente um controle de estoque em que ele pode digitar ou falar as entradas, do jeito que ele achar melhor. Imaginou? Imagina o usuário poder controlar os menus com o movimento dos olhos ou com um sorriso. Imagina o conforto e consequente satisfação do usuário em utilizar o seu produto.
Existem muitos dispositivos, sensores e equipamentos que podem tornar o seu sistema mais inclusivo. São muitas possibilidades. Vamos conversar a respeito? Bons negócios e até a próxima.
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